e do lanterna verde. do super homem. do caçador marciano. do homem de ferro. do darth vader. do homem aranha do hulk do coisa do flash do buzz lightyear do woody e de todo e qualquer super herói com seus super poderes capazes de salvar o mundo e solucionar todos os problemas da vi-da.
no começo era fofo. a capacidade incrível do benjamin em memorizar que, sem a máscara, batman vira bruce wayne, homem aranha vira peter parker e darth vader era anakin (tá tudo documentado aqui).
papai nerd – fã do homem aranha desde pequeno, além de outros personagens de quadrinhos e filmes – morre de orgulho e ensinou o que podia (e não podia) para seu filho, quase como quem ensina um ofício ou transmite um legado.
mas foi virando uma obsessão (natural da idade) e eu comecei a pegar abuso.
começou num inocente dia quando ouço o marido conversando com o pequeno: “aí não sei quem cortou a mão do anakin…” pera lá! que história é essa de cortar mão, ein?
até eu já me peguei contando histórias de heróis para ajudar o pequeno a comer: “o batman foi ao supermercado comprar feijão preto, porque o batman a-do-ra feijão preto”. e realmente, a tal historinha funcionou, já que benjamin tinha pegado abuso de feijão e voltou a comer, por causa do batmão. o mesmo serviu para “o hulk é verde e adora comer tudo que é verde”.
veja bem, o problema não é gostar ou não gostar de heróis, mas a mensagem que eles transmitem.
o argumento que eu sempre ouço é: “não dá pra criar seu filho numa bolha”. não, não dá. mas também não dá para expor ele a coisas inapropriadas para sua pequena idade e falta de discernimento.
e por que, luíza, você não gosta dessa história de heróis?
ponto 1: a violência
de nada vale levantar bandeira contra palmada, violência doméstica e sei lá mais o quê, se as crianças estão sendo disciplinadas pelos seus ídolos que a violência pode resolver o problema da humanidade. atualmente é até difícil ver um herói com pistola na mão, mas alguns deles ainda fazem uso de martelos, espadas, lasers. outros são armas ambulantes, providos de uma força descomunal ou então são mutantes com habilidades variadas.
mas o fato é que é raro você ver um conflito ser resolvido nas histórias de heróis sem que haja um belo confronto. pelo contrário, o momento da luta é sempre o grande clímax e o conto só costuma ser bem sucedido se o mocinho vencer.
ou seja, o mais forte, mais esperto, mais ágil, mais ________ (complete aqui com um adjetivo de habilidade suprema) é vitorioso.
raras são as ocasiões em que é necessário perder para vencer.
bater no amiguinho não pode, mas bater no cara malvado sim, pra salvar outras pessoas. os fins justificam os meios.
ponto 2: a frágil condição do ser humano
todos nós somos frágeis. até os super heróis têm seu ponto fraco, sua criptonita, seu calcanhar de aquiles.
mas essas histórias nos fazem acreditar que, em alguns casos, o único jeito de resolver certos problemas e situações é recorrendo aos super heróis.
veja bem, eu não sou contra pedir ajuda. pelo contrário, somos frágeis mesmo e precisamos entender que a autossuficiência pode nos destruir. mas fazer uma criança acreditar que o único jeito de resolver certas situações é recorrendo a um ser que não existe é quase que ensinar que seus problemas são impossíveis de serem solucionados na vida real.
muito melhor é aprender a pedir ajuda a um amigo, tio, mãe ou pai. pessoas como ela, cheias de virtudes e defeitos. e entender que ela também pode ser uma ajuda para os outros, por mais fraca que a criança possa parecer.
muito diferente do mundo dos heróis, onde os fracos não têm vez.
ponto 3: o consumismo
atrás de cada máscara, cada capa, cada cinturão, existe uma enorme indústria movida pelo quê? pelo dinheiro. o seu, o meu, o nosso suado dinheirinho.
então não basta gostar do batman. tem que vestir-se como ele. e não é só pegar uma cartolina preta, recortar e colocar na cara ou amarrar um pano ao redor do pescoço (que vai, essa é a parte legal disso tudo). você precisa comprar a fantasia. a lancheira. a camiseta. o condicionador, o fio dental, a sunga, o chinelo, a maçã, o frango empanado, o livro, a balinha, o óculos. não há freio. eles sugam e esgotam todas as possibilidades de produtos. e isso não serve só para heróis e princesas. qualquer desenho ou personagem voltados para o público infantil vira foco das indústrias. se às vezes é fácil ludibriar um adulto, imagina uma criança.
não to falando que é pra deixar de comprar o sabonete do homem aranha (madagascar, galinha, monstros, minions) se o artigo for bom só porque é um produto licenciado. mas muitas vezes não é. o frango empanado não faz bem pra saúde com ou sem menina dentuça. a maçã no saco do rato orelhudo é tão boa quanto aquela vendida a granel (e essa última costuma ser mais barata). às vezes a pasta de dente ou o sabonete foram comprados sem nem pensar – só por causa do personagem – mas a mãe ou pai não atentaram que o teor de flúor de uma era muito alto e inadequado para a idade ou o shampoo continha um produto químico forte que pode fazer mal à saúde da criança. sem falar que, pra completar, alguns desses itens às vezes são mais caros que uma embalagem lisinha, sem ninguém pra representar a marca.
muito menos to dizendo que é pra jogar fora as fantasias, máscaras, coroas, nem deixar de ir à festinha do amigo porque vai ser do thor, homem aranha ou quem lá seja. muito menos parar de frequentar a casa de algum amiguinho que só tenha brinquedos de heróis (que é o mais comum de se acontecer). ele vai, vai brincar à beça e eu vou ficar feliz por ele.
mas as coisas devem ser usadas com parcimônia e equilíbrio.
uma coisa é estar inserido nesse contexto. outra é viver completamente imerso, a ponto de quase afogar-se.
com o tempo ele vai crescer e aprender a discernir melhor essas coisas. mas, enquanto tudo virar arma e o tov – e outras crianças – virarem alvo de pancadaria porque ele é o tal do batman, eu precisarei intervir nesse tipo de brincadeira.
a imaginação e fantasia continuarão a ser incentivadas, só o foco que vai ser diferente. afinal, ele pode continuar a brincar de lixeiro, dentista, cachorro, motorista de caminhão, médico, hamster, cozinheiro, músico. pode se fantasiar, encenar, incorporar os personagens e se divertir da mesma maneira.
é uma fase maravilhosa, deliciosa e que deve ser vivida intensamente, mas de forma saudável.
e continuo com meu lema de vida: nem tanto ao céu, nem tanto à terra.
Original article: tô abusada do batman.