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benjoca na escola parte III – adaptação

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primeiro dia de aula. a família buscapé todinha foi prestigiar o pequeno: papai, irmã e mamãe, vendo benjoca com aquele uniforme gigantesco onde a camiseta chegava até o joelho, a bermuda até a canela e a mochila, quase do tamanho dele, fazendo-o parecer uma tartaruga. arrumei como pude: dobrei a barra da bermuda três vezes, coloquei a camiseta pra dentro, dobrei a manga da blusa.

e lá ia nosso tartaruguinho todo feliz, cheio de planos para o que ele imaginava ser uma escola.
quando chegamos, algumas crianças já estavam sentadas em fila no chão. logo encontrei os pequenininhos na sua respectiva fila e a professora, que conhecemos antes. ele ficou bonitinho na fila enquanto nós o víamos, tirávamos foto e registrávamos o momento como podíamos. cantaram uma musiquinha, fizeram uma oração (pois é. já discutimos bastante sobre isso por aqui) seguida de um “tchau papai, tchau, mamãe!”. demos um beijinho nele e saímos.
até então eu estava de boa, mas foi só pisar o primeiro pé fora dos portões da escola que senti um nó na garganta e os olhos marejados. sim, meu filho está crescendo e não há nada que eu possa fazer para desacelerar esse processo.

sempre quis ver meus filhos crescerem, mas sempre aproveitei muito bem cada fase. não chego a sentir propriamente uma saudade de quando eram menores. lembro com ternura, com as fofuras e encantos que cada idade tem, mas curto muito o momento presente. acho que talvez por isso não sinta tanta saudade do que já foi.
e aquele era o momento de curtir o presente. curti minha despedida de filho único quando ainda estava grávida, curti seu momento pré-pré-escola e sei que vou curtir muito essa nova etapa.

e daí que as primeiras semanas de aula foram de adaptação. na primeira semana a aula acabou duas horas mais cedo. na segunda semana, uma hora mais cedo. e agora, na terceira semana, as aulas finalmente estão no seu horário normal.
posso dizer que ele se adaptou muito bem nesse começo. claro que a adaptação continua, mas ele está muito feliz com a professora, os coleguinhas e tudo mais.
tanto que, no quarto dia de aula, enquanto nos dirigíamos à escola, ele virou pra mim e disse:
-  mamõe, quando você chegar na escola pode me deixar lá rapidamente e ir embora, tá?
sim, ele usou esse termo: rapidamente. até brinquei com ele e perguntei se ele sabia o que significava isso e ele disse “é ir bem rapidinho”.
combinado então. deixei meu pequeno adolescente bem rapidamente e me pirulitei.

enquanto isso, tenho aproveitado essas manhãs para resolver algumas coisas pendentes (a vida tá acumulada desde dezembro. imaginem só vocês o tanto de pepino que já apodreceu por aqui). mas o tempo ainda era muito curto então eu passei minhas manhãs meio que em função de voltar para buscá-lo, também rapidamente.

os dias se passaram (com hoje já são 18) e ele continuou a pedir que eu saísse rapidamente. e assim o fiz. sem choro, nem vela, nem chorumelas.
até que eu precisei resolver uma pendência na escola. planejei então deixá-lo e depois ir à secretaria. por conta disso, não fui embora rapidamente. fiquei ali esperando começar e acabar a musiquinha e a oração, enquanto ele me olhava com uma cara estranha como quem diz “o que você ainda tá fazendo aqui?”. foi começar a musiquinha que ele saiu da fila ao meu encontro, com os olhos cheios de lágrima: “vai embora, mamõe!”.
vi que por alguma razão a minha presença ali o incomodou, então me escondi atrás de um biombo e fiquei por lá. ele voltou ao seu estado normal, cantou a musiquinha junto e todo o resto. enquanto ele se dirigia à salinha, eu saí e fui à secretaria. mas ele resolveu olhar para trás. aí me chamou “mamõooe”, correu até mim, e começou a chorar. fiquei com muita dó. peguei ele no colo, disse que estava tudo bem. a professora veio atrás, também explicou que estava tudo bem e chamou ele para voltar pra perto dos amiguinhos. ele foi pro colo dela sem resistência alguma, me deu um beijinho e nos despedimos. desta vez eu esperei fora da escola até que começasse sua aula. resolvi o que precisava e depois dei uma espiada na sua sala: ele estava sentadinho com a turma tranquilamente, como se nada tivesse acontecido.

fiquei intrigada com a sua reação.
apesar de saber que ele me ama, assim como eu o amo, ele nunca foi de ter essas atitudes comigo. às vezes faz essas coisas quando o pai sai pra trabalhar (raramente, mas ainda faz) e costuma ter esse tipo de comportamento especialmente com o hilan. tanto ciúmes, quanto isso de pedir colo, de pedir que fique no quarto com ele até que durma, etc.
comigo o esquema é mais prático, sem muito drama.
em momentos de baixa auto estima eu até já cheguei a me questionar se meu filho realmente gostava de mim.
mas a verdade é que eu sempre estive ao lado dele. sempre fui a que fica, não a que sai. até agora, ele passou praticamente a vida inteira ao meu lado, exceto quando ia dormir na casa da avó e voltava no dia seguinte ou nas poucas vezes que viajei bate-e-volta sem ele.
mas, desde quando estava grávida da sansa, boa parte dos rituais passaram a pertencer a ele e ao pai: café da manhã, jantar, banho, dormir. eu passava o dia inteiro ao lado dele mas não necessariamente passava o dia junto com ele.
agora, quando as aulas começaram, isso mudou. eu que acordo ele de manhã, dou café, ajudo a vestir o uniforme, o sapato, pentear o cabelo, escovar os dentes. eu que passei a deixar sua mochilinha pronta de véspera e pensar nos pormenores da sua manhã fora de casa. eu que levo e busco ele.
então esse passou a ser o nosso ritual. quando acordo, deixo constança com o pai e vou dedicar atenção única e exclusiva a ele. vamos só nós dois no carro na ida e na volta a irmã vai comigo para buscá-lo.
voltamos a ter um momento só nosso (antes tão frequente e agora tão raro), por mais corrido que seja.

mas pela primeira vez eu passei a ser a que sai.
quando questionava por que ele queria que eu saísse rapidamente, ele respondia que é porque não queria que eu cantasse a musiquinha. “por quê? a mamãe canta tal mal assim?” – eu brincava.
mas é que depois da musiquinha vinha o tchau, mamãe, como ele veio a me explicar depois.
tenho visto ele voltar realmente feliz da escola (por mais que lá tenha algumas coisas que eu realmente não gosto), me contando os ocorridos do dia, falando o nome de vários amiguinhos que ele já fez.
a professora o elogiou, dizendo o quanto é independente e entrosado.
tenho visto que ele gosta mesmo de estar lá. tanto que, na sexta feira passada ele me disse:
- eu gosto muito da escolinha, mamõe! eu queria ficar o dia inteiro lá.
- é, filho? que legal! o que você gosta tanto na escolinha?
- a professora!
claro que meu coração derrete! a professora é uma querida e eu também gostei dela desde o momento que a vi. fico muito feliz por saber que ele tem esse carinho por ela.

mas depois ele falou:
eu não gosto quando você vai embora, mamõe.
- mas você não acabou de dizer que queria ficar o dia inteiro na escola?

- é. eu não gosto quando você vai embora, mas eu não gosto de ir embora da escola. mas eu gosto de ir embora da escola também.
- como é isso, filho?
- é que você não está lá na escola.

é claro que meu coração derrete em forma e cor de arco íris e ao mesmo mesmo tempo ele fica todo apertadinho, por ver esse conflito emocional que meu pequeno está passando.
mas não, eu não me arrependo de maneira alguma. eu não quero criar meu filho numa bolha emocional, onde ele nunca terá conflitos. esse é só o começo da vida e ele está bem, porque tem recebido um bom suporte tanto em casa quanto na escola.
tudo isso faz parte do crescimento.

enquanto isso, aqui em casa, eu também tenho tentado me adaptar à nova rotina sem ele. ou melhor, tentado criar alguma rotina sem ele, como separar um tempo para arrumar a casa (que está uma zorra), cuidar do blog (que está às moscas) e dar atenção à constança (que está linda, obrigada).
minha adaptação, diferente da dele, está horrorosa. não to conseguindo conciliar nada. fico naquela euforia de ter um tempinho extra que acabo sem saber o que fazer. já perdi várias manhãs sem que tivesse realizado nada especial. algumas vezes só tentando botar constança pra dormir – sem sucesso – e em outra meio que arrumando a casa, meio que fazendo um almoço mas, no fim do dia, a casa encontra-se ainda pior que quando amanheceu.
exemplo disso também é esse post, que comecei a escrever 9h da manhã e, às 11h ainda estava sem post, sem almoço e com a casa igual que nem passou o fim de semana.

hoje será a segunda reunião de pais, dessa vez só com a professa do benjoca e nós, pais.
estou curiosa para saber o que ela dirá e também ansiosa para narrar o meu lado dos fatos. nutro igualmente a expectativa de poder conversar com ela sobre algumas coisas que tenho discordado e outras que tenho curtido.

(continua ad eternum)

leia também:

benjoca na escola – parte I – o começo de tudo

benjoca na escola – parte II – admissão

Original article: benjoca na escola parte III – adaptação.


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